sexta-feira, 4 de outubro de 2024

As narrativas da estigmatização de Francisco de Assis

 

É interessante que Francisco nunca faça menção aos seus estigmas, nem mesmo de forma indireta. Santa Clara, sua grande amiga que o tem como referência, igualmente nunca lhe menciona os estigmas. O próprio Papa Gregório IX, que o canonizou em 1228 sem citar os estigmas, só lhe faz menção nove anos depois. Igualmente a literatura dos primeiros companheiros nada diz a respeito. Isso não faz pensar? (CROCOLI, 2024, pp. 9-10).

Aqui vamos percorrer alguns textos das narrativas sobre os estigmas, de modo mais particular, os que falam da impressão dos estigmas em Francisco de Assis. Não nos deteremos em considerações sobre a época de cada escrito, nem sobre a autenticidade deles. Focaremos no que os textos relatam, buscando colher o que isso pode nos trazer sobre a vida do santo assisense na interpretação dos hagiógrafos.

Também não queremos colocar esse fato como o principal na vida do santo. Centro de sua vida é o Evangelho. Cabe notar que ele próprio escondeu os estigmas o quanto pode.

Dentro da dinâmica do jubileu dos 800 anos do acontecimento, é interessante lembrar que as pessoas correm atrás de coisas maravilhosas e miraculosas, nem sempre se deixando impactar pelo ensinamento. Já foi assim com Jesus, é assim com os santos, e também com o “profetas de nosso tempo”.

 

Descrição detalhada

Carta encíclica de Frei Elias[1]

A Carta de Frei Elias está cercada de dúvidas quanto à sua autenticidade e conteúdo. O texto que está na edição das FF carece de fontes manuscritas. O certo é que Frei Elias escreveu uma carta, que é referida por Jordano de Jano (FF pp. 63-64). Aqui não nos interessam os debates e estudos sobre sua autenticidade; uma vez que o texto se encontra nas FF, compõe o quadro de textos que narram a morte de São Francisco de Assis, fazendo referência aos estigmas.

Tendo presente que Frei Elias escreveu uma carta de consolo aos frades após a morte do Poverello, este seria o primeiro escrito, cronologicamente falando, a narrar a estigmatização do Santo de Assis, primeiro santo da Igreja estigmatizado.

A carta é intitulada “Carta Encíclica”. Seu tom é solene. A partir de textos bíblicos, fala de São Francisco como o consolador, o que carrega nos ombros os outros, a luz que ilumina em meio as trevas. Sua morte deixou os frades, de modo particular Elias, na escuridão. Convida os irmãos a não se entristecer demais com a morte do santo, pois o consolo vem do próprio Deus. Assim introduz o anúncio dos estigmas.

Tendo dito estas coisas, anuncio-vos uma grande alegria (cf. Lc 2,10) e a novidade de um milagre. Nunca se ouviu dizer no mundo (cf. Jo 9,2) tal sinal, a não ser [realizado] no Filho de Deus (cf. Ap 7,2), que é o Cristo Senhor (cf. Lc 2,11). Não muito tempo antes da morte, nosso irmão e pai apareceu crucificado, trazendo em seu corpo as cinco chagas que são verdadeiramente os estigmas de Cristo (cf. Gl 6,17). Suas mãos e pés tinham como que perfurações dos cravos, transpassadas de ambas as partes, conservando as cicatrizes e deixando ver o negrume dos cravos. 19 Seu lado apareceu traspassado por uma lança e muitas vezes fazia jorrar sangue (El 15-19).

O relato, feito por Elias, é sucinto: não descreve visões, lugar e modo da impressão dos estigmas em São Francisco; restringe-se ao fato dos estigmas estarem no corpo do santo e de como eram. Coloca o anúncio, porém, em júbilo natalino, pelo que podemos imaginar que a alegria de participar da Paixão de Cristo, do que os estigmas são sinal, compara-se com a alegria da realização da promessa divina do Salvador. Este júbilo tornou-se euforia entre os frades e a maneira de apresentar o santo que se configurou com Cristo.

 

As narrativas de Celano

1 Descrevendo o fato (1Cel 94-95)

Tomás de Celano, como biógrafo (hagiógrafo) oficial, não é isento de influências eclesiais e sociais, internas ou externas à Ordem. Precede o relato da impressão dos estigmas com uma longa narrativa sobre o desejo de São Francisco conformar-se à vontade divina. Nesta narrativa, pode-se perceber uma certa ligação com os inícios da conversão, quando Francisco, acompanhado de um amigo, dirigia-se a grutas para mergulhar no discernimento da vontade de Deus. Agora, num eremitério, também se faz acompanhar por confrades, que conhecem sua vida e aprofunda-se na oração, pedindo que Deus se digne revelar-lhe a sua vontade (1Cel 94). A dinâmica de abrir o Evangelho, a mesma de quando recebe os dois primeiros irmãos, o acompanha agora e, ao fazê-lo, lhe é dado o texto da Paixão.

Que momento é este, no qual o santo se coloca na mesma atitude do início de sua caminhada. Não podemos esquecer as dificuldades enfrentadas nos últimos anos, de modo particular com os próprios confrades, sobre questões de organização e forma de vida, na elaboração final e na aprovação da Regra. Se no início de sua caminhada foi o pai, um familiar, que lhe perseguia, agora são os irmãos que lhe colocam dificuldades.

A partir disso, Celano coloca o Poverello, no eremitério do Alverne dois anos antes de sua morte, ou seja, um ano após a aprovação da Regra[2]. Na meditação da Paixão, o santo tem a visão de uma figura humana crucificada em forma de serafim. Visão embasada na visão de Isaías.

Interessante notar que, segundo Celano, o santo se entretém contemplando a visão, alegrando-se mais por ser olhado com benignidade pelo crucificado. Este simples detalhe mostra a proximidade que sente de Deus. É o Senhor que olha para ele. Ao longo se sua trajetória, foi sempre o Senhor que lhe sustentou, transformou, fortificou, consolou, lhe deu tudo.

Outro detalhe interessante é que Celano se refere à visão como novidade: a grande e única novidade que perpassa os séculos é a crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, com toda a sua maravilha.

Imerso na meditação sobre a visão sente imprimirem-se os estigmas me seu corpo. Tomás de Celano os descreve como fizera Elias, enriquecendo, porém, de detalhes a narrativa. Retoma, mais adiante (1Cel 112), a narrativa falando da candura do corpo e do sinais na carne como cravos (não mais as cicatrizes, mas a carne toma forma dos próprios cravos), de modo a ressaltar a contínua crucificação.

 

2 Interpretação do fato

Ao narrar a morte (e o velório) de são Francisco, Celano fala da mistura de tristeza e alegria nos frades. Sentimento que mescla a perda e a admiração pelo “milagre”, quando se revelam os estigmas aos olhos de todos.

Para Celano, trata-se de perceber a configuração do santo ao seu Senhor, pois o trazia sempre consigo, no pensamento, nas palavras, na oração, na contemplação, na ação (1Cel 115,3-5).

Também, Celano faz referência ao desejo de martírio não contemplado durante a via (1Cel 57,12), mas que agora se realiza depois de uma vida totalmente entregue ao seu Senhor crucificado (1Cel 113,2).

Ainda, trata-se de modelo para nós. Se seguirmos os passos de São Francisco, também podemos receber tão grande dom (1Cel 114,8ss). Interpretação essa não desprovida da dúplice relação: com Deus e com o próximo.

 

A narrativa de Juliano de Espira (Jul 59-63)

Juliano de Espira introduz a narrativa falando da divisão pessoal do tempo de São Francisco, tanto para as pessoas como para si. Nesta dinâmica, afasta-se temporariamente do convívio para colocar-se na tranquilidade, podendo assim estar a sós com Deus e retirar de si o que afeta a convivência com o Senhor. É interessante notar que também aqui aparece a dinâmica de levar consigo irmãos que ajudem a manter a tranquilidade e a solidão (gesto que teve no início de sua caminhada, segundo Celano, ideia reforçada pelo desejo de viver de novo as agruras e sofrimentos).

Nessa tranquilidade e na contemplação, surge-lhe o desejo de conhecer mais profundamente o que deveria fazer para o Senhor. Pleno desse desejo, aproxima-se da palavra, que coloca sobre o altar, e prostra-se em oração e clama para que lhe seja revelada a vontade divina. Gesto também reportado por Celano, que faz pensar sobre a unidade da palavra e da eucaristia para o santo. A palavra revela e une Àquele que se dá sobre o altar. Sempre que abria o livro, aparecia-lhe o texto da Paixão do Senhor ou semelhante.

Aceita tal revelação e prepara-se com mais ardor para suportar tudo por Cristo. Não muito tempo depois, dois anos antes de sua morte, no Eremitério do Alverne, recebe a visão do Serafim. Novamente se diz que lhe invadiam alegria e medo. Alegria com a visão, temor da horrenda crucifixão. Aparece também o detalhe de ser olhado pelo Serafim, com benevolência.

Francisco não consegue entender o significado da visão enquanto ela não se faz carne na sua carne, enquanto não percebe em si as marcas da visão. Juliano de Espira reforça a admiração pelo milagre ocorrido e nunca descrito antes na história.

Ao comentar o aspecto das chagas, também menciona o sangramento da cicatriz do peito. Sinais que foram escondidos pelo santo o mais possível aos olhos das pessoas, tendo revelado somente a pouquíssimas pessoas, de modo especial a do peito, sempre citando Frei Elias e Frei Rufino (que tocou a cicatriz durante uma massagem) como frades que as viram.


A narrativa de São Boaventura (LM 13; 15)

São Boaventura coloca o acento não na vontade de Francisco seguir o Cristo, mas na divina inspiração. De fato, se lincarmos com o Testamento, o próprio Francisco vê sua vida toda como uma condução do Senhor.

Outro detalhe interessante é a companhia de um irmão no momento de oração e de leitura da Palavra. Os biógrafos anteriores o colocam como que sozinho neste momento.

O texto da paixão lhe serve de revelação para a sua configuração já nesta vida, porque vivera toda a vida sob a paixão do Cristo.

Aqui também aparece a alegria de ser olhado pelo Serafim alado. A tristeza e a alegria misturadas: tristeza pela crueza da crucificação e alegria pela visão. Mais uma vez São Boaventura destaca a revelação divina sobre a configuração com o Crucificado. A iniciativa é de Deus.

Com o coração perpassado pela contemplação da visão, tem-no marcado com os estigmas que também lhe são impressos na carne externa.

 

A narrativa dos Três Companheiros (LTC 14; 69; 70)

A LTC, já faz referência aos estigmas no início do processo de transformação de vida de Francisco, inserindo a significação dos estigmas impressos no coração desde a fala em São Damião: “Assim, a partir daquela hora, seu coração ficou de tal modo ferido (cf. Ct 4,9) e enternecido que, ao lembrar-se da paixão do Senhor, sempre enquanto viveu, levava em seu coração os estigmas do Senhor Jesus (cf. Gl 6,17), como mais tarde ficou patente de maneira nítida pela renovação dos mesmos estigmas, admiravelmente impressos em seu corpo e muito claramente comprovados” (LTC 14,1).

A significação dos estigmas corpóreos é a clara demonstração de que eles estavam impressos no coração do santo assisense desde o início de sua conversão. São o externar do que havia no íntimo do Poverello. A LTC descreve isso ao falar do afastamento dos amigos de outrora e da busca de novo rumo para a vida. Segue dizendo de sua austeridade na penitência, mesmo quando enfermo.

Ao narrar o fato (LTC 69,1-6), começa dizendo que a iniciativa é do Senhor em querer mostrar o amor nutrido por Francisco pela paixão, pelo que lhe ornou o corpo com os sinais da crucifixão.

A LTC, ao narrar o fato, colocando-o dois anos antes de sua morte no Monte Alverne, não fala da consulta (tríplice) ao Evangelho, limita-se a dizer que estava em oração e que lhe apareceu o Serafim “que trazia entre as asas a forma de um belíssimo homem crucificado que, na verdade, tinha as mãos e os pés estendidos em forma de cruz e manifestava de maneira muito clara a efígie do Senhor Jesus” (LTC 69,3). Com o desaparecimento da visão, os estigmas ficaram marcados em seu corpo, o que tentou esconder durante sua vida, mesmo que alguns companheiros tivessem conhecimento disso. Na sua morte foram manifestados a todos, também pelos milagres que se sucederam (LTC 70).

 

Considerações sobre os estigmas (SCE)

São cinco considerações (meditações/relatos) feitas sobre os estigmas. Encontram-se como apêndice dos Fioretti.

A primeira (SCE 1) fala de como o santo começou a pensar em procurar um lugar para fazer a quaresma de São Miguel. Nessa “busca” entra em uma festa e prega aos presentes, conhecendo assim a Orlando e Chiusi, que dará aos frades o Monte Alverne para servir de eremitério.

O texto se desdobra em mostrar a cordialidade de Francisco e do Conde Orlando.

A segunda (SCE 2) fala de como frades foram enviados a conhecer o dito local, no qual já constroem pequenas celas para a estadia, “tomando posse”[3] do dito monte. Ao retornarem, comunicam a Francisco que, preparando-se para tal recolhimento, escolhe frades para ir com ele.

Lá chegando, Francisco pede, após a visita de Orlando com os seus, que os frades o ajudem a ficar no mais profundo silêncio. Constrói uma cela afastada e pede que somente Frei Leão vá ao seu encontro uma ou duas vezes por dia. Ali sofre as tentações e provações, também tem revelações.

Há um detalhe aqui: o monte possui muitas pedras fendidas, as quais teriam sido rachadas no dia da Crucificação de Jesus, porque ali iriam acontecer maravilhas ligadas ao Gólgota.

A terceria (CSE 3) quer ser a narrativa propriamente da aparição dos estigmas (talvez sendo o texto mais longo sobre o tema nas FF). Repleta de figuras, joga com o número três: são três vezes que Francisco estende as mãos para a flama celeste; três vezes oferece a Deus o que ele pede; três vezes se ajoelha, recebendo a significação de estarem (as ofertas) ligadas aos três votos que viveu com pureza e perfeição. Depois disso, revela a Frei Leão que acontecerão nos dias seguintes coisas maravilhosas e manda trazer o Evangelho.

É Frei Leão, neste relato, que abre o Evangelho por três vezes (em nome da Santíssima Trindade), depois de o santo ter se colocado em oração. “e, como aprouve à divina disposição, naquelas três vezes sempre se apresentou diante dele a paixão de Cristo: pela qual coisa lhe foi dado a entender que, como ele tinha seguido a Cristo nos atos de sua vida, assim o devia seguir e conformar-se com ele nas aflições e dores da paixão antes de passar desta vida”.

Chegado o dia da Exaltação da Santa Cruz, Francisco é admoestado, na véspera, por um anjo a preparar-se para o que Deus lhe pedirá. No dia, o santo pede a Jesus a graça de sentir na alma e no corpo as dores da paixão e o amor que levou o Filho de Deus a entregar-se voluntariamente a tal paixão. Colocando-se em profunda oração e contemplação transformou-se em Jesus pelo amor e pela compaixão.

Neste estado, tem a visão do Serafim alado e crucificado, que lhe revela ter-lhe dado os estigmas para ser a imagem do Cristo tanto em vida como na morte. Circunda esta visão com a visão do monte iluminado como o sol, visto pelos moradores de arredor, pois isso teria acontecido antes do nascer do sol.

Ao descrever os estigmas, o faz como Celano e Boaventura. Acrescenta, porém, o fato que, tendo guardado de contar aos frades o que sucedera, os mesmos começaram a intuir, pois, quando lavavam suas roupas, percebiam o sangue e ligavam com o esconder das mãos e dos pés pelo Poverello. Quer esconder de todos, mas consulta alguns frades sobre o que poderia significar esconder a revelação divina, pelo que Frei Iluminado lhe diz que, às vezes, Deus revela coisas que devem servir para outros, pelo que não podem ser escondidas. Francisco então lhes conta a visão.

Diferente dos outros relatos, nesta parece que o santo somente deixa Frei Leão ver e tocar, ajudando-o a manter os estigmas escondidos (envoltos e faixas de linho). Não deixava trocar os curativos de quinta a sábado, para poder sentir as dores do Crucificado, lembrando de sua paixão, cucifixão e morte.

Terminada a Quaresma de São Miguel, retorna a Santa Maria dos Anjos, recomendando o eremitério a Frei Ângelo.

A quarta consideração sobre os estigmas (CSE 4) fala da decida do Monte Alverne e da viagem para Santa Maria dos Anjos, querendo ressaltar os milagres realizados. É interessante notar a ligação com Cristo entrando em Jerusalém: Francisco é levado num burrinho (porque seus pés estigmatizados não podiam tocar o chão); ao aproximar-se o burgo Santo Sepulcro a multidão vai à frente com ramos e aclamação, bem como o apertando; estando em contemplação (como se estivesse sepultado em Deus) não sente nada, nem percebe esta passagem.

Conte vários milagres que teriam sido realizados durante a viagem e nas estadias que fez nos lugares até Santa Maria dos Anjos. Como renunciou à direção da Ordem, passando-a a Pedro Cattani. Sobre a vinda de Jacoba de Settesoli. Sua morte e canonização.

Ao mesmo tempo em que fala da insistência de Francisco em esconder os estigmas, ressalta que muitos frades e pessoas os viram ou intuíram sua existência, principalmente após a morte.

A quinta consideração (CSE 5) desdobra-se em narrar aparições e revelações após a morte de São Francisco, tanto para prova aos céticos como para confirmação da devoção dos crentes. Numa das aparições, revela ao confrade que, diferente da descrição dos outros biógrafos, é o próprio Cristo crucificado em forma de Serafim que lhe apareceu.

 

Aqui, passamos rapidamente por alguns textos. Existem outros (AP, CA...), ficam para a pesquisa e leitura dos interessados e curiosos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CROCOLI, Aldir. Os estigmas de Francisco, culminância de um processo de identificação. Cadernos da Estef, Porto Alegre, n. 72, vol. 1, 2024, pp. 9-26.

Fontes franciscanas e clarianas. 3. Ed. Petrópolis : Vozes, 2014.

 



[1] Para este artigo sigo os textos e suas siglas conforme a edição das Fontes Franciscanas e Clarianas da Editora Vozes (cf. Referências bibliográficas).

[2] Frei Aldir Crocoli, OFMCap, no retiro provincial dos OFM RS, falou da grande crise que São Francisco passa no processo de escrita e aprovação da Regra, quando se lhe exige deixar de lado o trabalho coletivo feito ao longo de anos, para escrever sozinho. Crise que não é relatada pelos biógrafos (talvez para não diminuir a imagem do santo).

[3] É interessante que o texto use o termo posse, e que diga que São Francisco se alegrou com isso, uma vez que nos escritos do santo há sua insistência na não propriedade e no não se apossar de lugares e funções.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

6º Domingo da Páscoa

 9 de maio de 2021

Cor: Branco

 

 

1ª Leitura – At 10,25-26.34-35.44-48

O dom do Espírito Santo também foi derramado sobre os pagãos

 

Leitura dos Atos dos Apóstolos

 

25Quando Pedro estava para entrar em casa, Cornélio saiu-lhe ao encontro, caiu a seus pés e se prostrou. 26Mas Pedro levantou-o, dizendo: 'Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem'. 34Então, Pedro tomou a palavra e disse: 'De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. 35Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. 44Pedro estava ainda falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra. 45Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os pagãos. 46Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus em línguas estranhas. Então Pedro falou: 47'Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?' 48E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Eles pediram, então, que Pedro ficasse alguns dias com eles.

Palavra do Senhor.

 

A leitura dos Atos dos Apóstolos nos mostra Pedro indo ao encontro daqueles que se tornam os primeiros membros não judeus da Comunidade cristã. Pedro apresenta-se como simples homens, mensageiro humilde da Palavra, criando condições de diálogo e abrindo-lhe o coração para acolher e reconhecer o dom e a presença de Deus que se apresenta fora dos padrões esperados. De fato, essa leitura também nos adverte para a tentação de se pensar que o dom é exclusivo e que fora da comunidade constituída não há possibilidade para Deus. Os que foram com Pedro se admiraram que os pagãos também receberam o dom do Espírito. A pergunta de Pedro ressalta essa realidade: “podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?” A comunidade apostólica reconhece, desde o início, que há igualdade entre os membros da Igreja, independente de sua raça, cultura, condição social. É Deus quem conduz os caminhos da fé.

 

Salmo – Sl 97,1.2-3ab.3cd-4 (R. cf. 2b)

 

R. O Senhor fez conhecer a salvação e revelou sua justiça às nações.

 

1Cantai ao Senhor Deus um canto novo,*

porque ele fez prodígios!

Sua mão e o seu braço forte e santo*

alcançaram-lhe a vitória. R.

 

2O Senhor fez conhecer a salvação,*

e às nações, sua justiça;

3arecordou o seu amor sempre fiel*

3bpela casa de Israel. R.

 

3cOs confins do universo contemplaram*

3da salvação do nosso Deus.

4Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,*

alegrai-vos e exultai! R.

 

O Salmo nos convida a louvar a Deus, reconhecendo suas grandes maravilhas. Ligado à primeira leitura, como resposta, faz-nos pensar que as maravilhas de Deus são a concessão do dom do Espírito Santo a todos os povos, sem distinção; seu amor incondicional que salva a todas as criaturas.

 

2ª Leitura – 1Jo 4,7-10

Deus é amor

 

Leitura da Primeira Carta de São João

 

Caríssimos: 7Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados.

Palavra do Senhor.

 

Deus é amor. A identidade de Deus é ser amor. Ele ama todas as criaturas porque é sua essência, não é só uma opção, nem um simples desejo, é o próprio ser de Deus. É Ele o princípio do amor, como é Ele que inicia amando. Por isso, nosso amor encontra nele o fundamento e a imagem. Nós amamos à imagem de Deus, como Ele nos ama. Amar é relacionar-se profundamente com Deus, na prática do amor fraterno. Assim podemos compreender a vida de Jesus de Nazaré, um com o Pai, amando a todos: dialogando com mulheres, curando doentes, perdoando pecadores, acolhendo as criancinhas, comendo com publicanos, fariseus e leprosos... Demonstrando o amor de Deus, que não faz distinção entre as pessoas.

 

Evangelho – Jo 15,9-17

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos

 

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João

 

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 9Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros.

Palavra da Salvação.

 

Jesus apresenta sua ligação amorosa com o Pai como fundamento para o amor mútuo entre seus discípulos. Não há lugar para justificativas fortuitas: o amor cristão é o amor do Filho encarnado, que deu sua vida pelos seus. Dar a vida é a atitude reveladora do amor, que acontece na prática do dia a dia. Só existe comunidade cristã com a prática do amor, amor como resposta ao amor de Deus, que é amor e ama por primeiro, e como partilha do amor. Amar é permanecer em Cristo, como o ramo permanece na videira e dá fruto. Permanecer em cristo é condição primordial para entender o amor divino.

A comunidade cristã se entende como continuadora da missão do Filho de Deus, e sem a missão, que é caridade, deixa de ser cristã. Permanecendo em Cristo e no seu amor, a Igreja ama incondicionalmente e incansavelmente, praticando a caridade na missão. Dom e compromisso assumido a partir de sua identidade, na permanência em Cristo Senhor. Amor e prática missionária são constituintes da identidade de quem segue o Cristo. Não é a prática de leis e de rubricas que constituem o povo de Deus. Leis e rubricas são apenas organização parcial da prática orante e da missão eclesiais. Sem amor elas perdem todo sentido e passam a ser peso insuportável e impraticável.

 

Nesse domingo, também celebramos o dia das mães. As geradoras de vida que, no amor, entregam-se a quem, desde seu ventre e por toda a vida, mantêm uma relação profunda e misteriosa. As mães são as reveladoras da possibilidade de amar como Deus ama: com amor desejoso de comunhão de vida, mas sem esperar resposta, amar porque se é assim, por que se é capaz de amar, não impondo condições, não se importando com situações... Incansáveis no cuidado, fortes na construção de condições de vida digna, batalhadoras por um mundo melhor e justo, testemunham na prática cotidiana o que é o amor de Deus por seus filhos e suas filhas.

 

 

Consulte:

https://liturgiadiaria.cnbb.org.br/app/user/user/UserView.php?ano=2021&mes=5&dia=9

https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/6%e2%81%b0-domingo-da-pascoa-9-de-maio/

https://subsidiosexegeticos.wordpress.com/2021/05/03/vi-domingo-do-tempo-pascal/

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Publicações da Província São Francisco de Assis no Brasil

 A Província São Francisco de Assis no Brasil tem lançado e-books (gratuitos) pela sua Editora ICSFA. Clicando sobre as imagens, acessarás o livro.







sexta-feira, 19 de junho de 2020

12º Domingo do Tempo Comum

21 de junho de 2020

Cor: Verde

 

1ª Leitura – Jr 20,10-13

Ele salvou das mãos dos malvados a vida do pobre.

 

Leitura do Livro do Profeta Jeremias

 

Jeremias disse: 10Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: 'Denunciai-o, denunciemo-lo.' Todos os amigos observavam minhas falhas: 'Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele.' 11Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12Ó Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa. 13Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus.

Palavra do Senhor.

 

O profeta coloca sua confiança nas mãos do Senhor, de quem recebe refúgio e consolo. Dos homens ele somente recebe maldade, desde mentiras e injúrias até tramas e perseguição.

 

 

Salmo - Sl 68,8-10.14.17.33-35 (R.14c)

 

R. Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!

 

8Por vossa causa é que sofri tantos insultos,*

e o meu rosto se cobriu de confusão;

9eu me tornei como um estranho a meus irmãos,*

como estrangeiro para os filhos de minha mãe.

10Pois meu zelo e meu amor por vossa casa*

me devoram como fogo abrasador. R.

 

14Por isso elevo para vós minha oração,*

neste tempo favorável, Senhor Deus!

Respondei-me pelo vosso imenso amor,*

pela vossa salvação que nunca falha!

17Senhor, ouvi-me pois suave é vossa graça,*

ponde os olhos sobre mim com grande amor! R.

 

33Humildes, vede isto e alegrai-vos:

o vosso coração reviverá,*

se procurardes o Senhor continuamente!

34Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres,*

e não despreza o clamor de seus cativos.

35Que céus e terra glorifiquem o Senhor*

com o mar e todo ser que neles vive! R.

 

O salmista canta o amor de Deus pelos pequenos, colocando-se entre esses, reconhecendo as maravilhas realizadas pelo Senhor em favor dos necessitados.

 

 

2ª Leitura – Rm 5,12-15

O dom ultrapassou o delito.

 

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos

 

Irmãos: 12O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram. 13Na realidade, antes de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. 14No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, – o qual – era a figura provisória daquele que devia vir. 15Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos.

Palavra do Senhor.

 

São Paulo reflete sobre a grandeza do dom divino que justifica, torna justo, os que são remidos pelo Senhor. Há uma solidariedade humana no erro e no pecado, mas também há uma solidariedade humana no bem. O ato de Jesus Cristo é maior do que o ato de Adão, pois envolve a solidariedade humana e a bondade divina.

 

 

Evangelho – Mt 10,26-33

Não tenhais medo daqueles que matam o corpo.

 

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus

 

Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos: 26Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. 27O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados! 28Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! 29Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. 30Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. 31Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. 32Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. 33Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

Palavra da Salvação.

 

Jesus incentiva a propagar a verdade, que não necessita ser escondida. O que é feito às ocultas acaba aparecendo. O medo, que faz calar, está ligado ao sofrimento, que remeta à perda da vida. Jesus mostra o valor infinito de cada um para Deus, e que a verdade é a demonstração da confiança nessa valorização divina.

As fake News, que buscam acabar com a vida do profeta de ontem e de hoje, acabam por ser reveladas aos olhos atônitos de quem confiava nos discursos humanos, sem se preocupar em verificar a veracidade de tais discursos. A Palavra de Deus, demonstradora dos dons maravilhosos concedidos aos fracos, é a única capaz de trazer a luz, a verdade, a vida. Ela revela os corações, as intenções, as motivações, indicando o que é certo, justo e leal.

Estamos fazendo experiência disso todos os dias, quando discursos e promessas são demonstrados por atos dos mais diversos níveis de governança, por mais diversos grupos que se dizem “pacíficos”, mas carregam ódio e armas; por grupos que se dizem fiéis, mas não seguem o Evangelho.

Olhemos para nós, nossos discursos e nossas práticas, nosso tom de voz, nossos critérios de escolhas e de ações; façamos a comparação com Jesus Cristo, suas palavras e ações, suas opções e propostas...


sábado, 13 de junho de 2020

2ª-feira da 11ª Semana Do Tempo Comum

15 de junho de 2020

Cor: Verde

  

1ª Leitura - 1Rs 21,1-16

Nabot foi apedrejado e morto.

Leitura do Primeiro Livro dos Reis

Naquele tempo: 1Nabot de Jezrael possuía uma vinha em Jezrael, ao lado do palácio de Acab, rei de Samaria. 2Acab falou a Nabot: ‘Cede-me a tua vinha, para que eu a transforme numa horta, pois está perto da minha casa. Em troca eu te darei uma vinha melhor, ou, se preferires, pagarei em dinheiro o seu valor’. 3Mas Nabot respondeu a Acab: ‘O Senhor me livre de te ceder a herança de meus pais’. 4Acab voltou para casa aborrecido e irritado por causa desta resposta que lhe deu Nabot de Jezrael: ‘Não te cederei a herança de meus pais’. Deitou-se na cama, com o rosto voltado para a parede, e não quis comer nada. 5Sua mulher Jezabel aproximou-se dele e disse-lhe: ‘Por que estás triste e não queres comer?’ 6Ele respondeu: ‘Porque eu conversei com Nabot de Jezrael e lhe fiz a proposta de me ceder a sua vinha pelo seu preço em dinheiro, ou, se preferisse, eu lhe daria em troca outra vinha. Mas ele respondeu que não me cede a vinha’. 7Então sua mulher Jezabel disse-lhe: ‘Bela figura de rei de Israel estás fazendo! Levanta-te, toma alimento e fica de bom humor, pois eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael’. 8Ela escreveu então cartas em nome de Acab, selou-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade de Nabot. 9Nas cartas estava escrito o seguinte: ‘Proclamai um jejum e fazei Nabot sentar-se entre os primeiros do povo, 10e subornai dois homens perversos contra ele, que deem este testemunho: ‘Tu amaldiçoaste a Deus e ao rei!’ Levai-o depois para fora e apedrejai-o até que morra’. 11Os homens da cidade, anciãos e nobres concidadãos de Nabot, fizeram conforme a ordem recebida de Jezabel, como estava escrito nas cartas que lhes tinha enviado. 12Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se entre os primeiros do povo. 13Chegaram os dois homens perversos, sentaram-se diante dele e testemunharam contra Nabot diante de toda a assembleia, dizendo: ‘Nabot amaldiçoou a Deus e ao rei’. Em virtude disto, levaram-no para fora da cidade e mataram-no a pedradas. 14Depois mandaram a notícia a Jezabel: ‘Nabot foi apedrejado e morto’. 15Ao saber que Nabot tinha sido apedrejado e estava morto, Jezabel disse a Acab: ‘Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael não te quis ceder por seu preço em dinheiro; pois Nabot já não vive; está morto’. 16Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer até a vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse.

Palavra do Senhor.

 

O rei, que traz em seu nome a paternidade (Acab = tio paterno), quer a vinha de Nabot para transformá-la em horta. Nabot (que faz referência a futuro, por significar frutos) mostra que se trata da herança paterna. Há algo mais profundo nessa terra, na qual Deus semeou algo por tempos ilimitados, desfazer-se disso é desfazer-se de Deus, é infidelidade. Infidelidade expressa no nome da rainha (Jezabel = esposa de Baal).

A infidelidade associada ao poder causa a morte daquele que quis ser fiel. As consequências virão, pois Deus escuta o clamor do sangue derramado.

 

 

Salmo - Sl 5, 2-3. 5-6. 7 (R. 2b)

 

R. Atendei o meu gemido, ó Senhor!

 

2Escutai, ó Senhor Deus, minhas palavras, *
atendei o meu gemido!
3Ficai atento ao clamor da minha prece, *
ó meu Rei e meu Senhor! R.

 

5Não sois um Deus a quem agrade a iniquidade, *
não pode o mau morar convosco;
6nem os ímpios poderão permanecer *
perante os vossos olhos. R.

 

7Detestais o que pratica a iniquidade *
e destruís o mentiroso.
Ó Senhor, abominais o sanguinário, *
o perverso e enganador. R.

 

O salmo, suscitando a resposta à palavra ouvida, é a prece de quem confia em Deus. Confiança na ação e na força de Deus diante do mal. Confiança que compromete à fidelidade ao amor e à bondade divinas. Comprometa a fazer o bem.

 

 

Evangelho - Mt 5,38-42

Eu vos digo: não enfrenteis quem é malvado!

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.

Palavra da Salvação.

 

Jesus parte do ensinamento antigo para trazer um novo. Postula uma nova postura diante da maldade. Se a Lei do Talião nasceu para conter os excessos da vingança, buscando equacionar a justiça, Jesus indica que é necessário superar a vingança pelo processo de justiça. A justiça, além da retribuição, exige mudança de procedimento, mudança de mentalidade: isso só acontece pelo questionamento profundo – é o que faz o dar a outra face, o caminhar além do imposto, o ficar nu.

Francisco de Assis soube manter a fidelidade a Deus, movendo-se pela misericórdia, entendendo o que se passava, não impondo sofrimento: comeu com o irmão afamado durante o jejum quaresmal, cantou o perdão para o prefeito e o bispo de Assis, envergonhou-se ao encontrar alguém mais pobre do que ele, que escolhera a pobreza por amor de Deus...

A liturgia da palavra desse dia, nos recorda que a fidelidade exige coerência, constância, força. É fácil se entregar ao poder que seduz, com o fizeram os ouvintes das cartas de Jezabel; mas isso leva à morte. É fácil ficar emburrado porque a vontade egocêntrica e mesquinha não foi atendida; mas isso leva à morte. Difícil, sim, mas belo, é a colocar a vontade de Deus como própria, transformar os sentimentos para a comunhão e não para a posse, para a acolhida do futuro que a herança dos pais e das mães da comunidade nos deixaram, acolhendo o que Deus semeou: isso leva à vida, porque leva ao reconhecimento do outro, à relação com o outro.

Nova atitude que faz quebrar o ciclo de violência, indicando o caminho da paz.

 

 

10 PASSOS PARA UMA CULTURA DE PAZ E DE NÃO-VIOLÊNCIA

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=RR_wQ3SzN-o

1. Descobrir o valor, sanador e transformados, do perdão e reconciliação.

2. Saber colocar-se no lugar do outro, para compreender.

3. Descobrir e valorizar o que há de positivo em cada um.

4. Acolher o outro com misericórdia, promovendo um diálogo sincero.

5. Construir a família e fortalecer a comunidade, formando ambientes de fraternidade.

6. Fazer parcerias, juntar forças, fortalecer laços.

7. Cuidar das causas dos problemas e não apenas de suas consequências.

8. Conhecer e usar os recursos legais, em prol da justiça e da paz.

9. Não ficar em silencia diante das injustiças, mas tentar solucioná-las, sem recurso à violência.

10. Cultivar, no cotidiano, a espiritualidade da esperança, do perdão, da reconciliação e da paz.

 


sábado, 6 de junho de 2020

Tempo Comum - Solenidade da Santíssima Trindade


7 de Junho de 2020
Cor: Branco


1ª Leitura - Ex 34,4b-6.8-9
Senhor, Senhor, Deus misericordioso e clemente.
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias: 4bMoisés levantou-se, quando ainda fazia noite, e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe havia mandado, levando consigo as duas tábuas de pedra. 5O Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés, e este invocou o nome do Senhor. 6Enquanto o Senhor passava diante dele Moisés gritou: 'Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel'. [ 7Ele conserva seu amor por milhares de gerações, tolerando a falta, a transgressão e o pecado, mas não deixa ninguém impune: castiga a falta dos pais nos filhos, netos e bisnetos».] 8Imediatamente, Moisés curvou-se até o chão 9e, prostrado por terra, disse: 'Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua'.
Palavra do Senhor.

Aparecem neste texto alguns elementos que podemos tomar como símbolos: “quando fazia noite” – quando havia escuridão, quando se andava nas trevas, quando se estava sem ver clareza o horizonte; “subiu ao monte Sinai” – buscou um lugar de visão, de onde se pode contemplar horizontes; “como o Senhor havia mandado” – sabe o que quer achar, mesmo que não veja o caminho, conhece o que quer, como se evidencia na oração feita diante do Senhor; “levou as tábuas de pedra” – fundamento sólido (a casa construída sobre a rocha permanece – Mt 7,24-25); “curvou-se até o chão” – reconheceu sua condição de criatura feita da terra, do barro (Gn 2,7), também a condição limitada do povo, ao mesmo tempo em que confia no amor misericordioso de Deus.
Deus permanece com Moisés, escuta sua súplica.

Salmo - Dn 3, 52.53.54-55.56 (R.52b)

R. A vós louvor, honra e glória eternamente!

52Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais.*
Sede bendito, nome santo e glorioso. R.

53No templo santo onde refulge a vossa glória. R.

54E em vosso trono de poder vitorioso. R.

55Sede bendito, que sondais as profundezas*
e superior aos querubins vos assentais. R.

56Sede bendito no celeste firmamento. R.

O salmo é como que a continuação da oração de Moisés. A liturgia nos faz cantar a honra e a glória de Deus, louvando-o por sua presença em toda a sua criação, louvando-o por sua presença amorosa, que nos envolve com suas maravilhas.

2ª Leitura - 2Cor 13,11-13
A graça de Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo.
Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios
11Irmãos: Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. 12Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todos os santos vos saúdam. 13A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.
Palavra do Senhor.

Neste trecho da segunda carta aos Coríntio, somos convidados à alegria, pela participação no amor e na paz de Deus, na participação da vida da Trindade. Deus Trino é graça, amor, comunhão.

Evangelho - Jo 3,16-18
Deus enviou seu Filho ao mundo, para que o mundo seja salvo por ele.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João
16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito.
Palavra da Salvação.

Deus ama e dá vida, concede a salvação a todas as criaturas. Enviou o seu Filho unigênito para todos, deixando a liberdade de acolher ou não o Filho, o amor, a salvação. Esta fala de Jesus, no Evangelho segundo João, faz parte do diálogo com Nicodemos, que foi procurar Jesus quando ainda era escuro, quando ainda estava nas trevas, mas buscava luz, buscava a verdade. Jesus deixa claro que a verdade é Deus, e a encontra quem reconhece o Filho enviado por Ele.
No Mistério da Santíssima Trindade, encontramos o amor, a comunhão, a graça para a vida sempre nova de quem entra na dinâmica da relação amorosa com Deus e com suas criaturas. Consegue compreender esse mistério quem participa dele.
Ao mesmo tempo, esse Mistério é sacramentum, é sinal santificante. Ao ser imagem de Deus, e Deus é Trindade, o somos enquanto somos amor, graça e comunhão nesse mundo. 
Em tempos de tantas trevas, com tantos horizontes desfocados, com tantas incertezas no caminho, com rancores e desrespeitos, podemos propor fundamentos sólidos, concretizados no amor que une que faz comungar da vida uns dos outros. A vida fraterna franciscana tem como fundamento essa dinâmica pericorética divina, nem sempre posta em ato por causa dos limites humanos, mas sempre possível de ser vivida. A comunhão com o mundo, mais do que serviço, é extravasamento da comunhão entre irmãos e com Deus.
Celebrar a Santíssima Trindade, é celebrar o amor vivencial, comunional, identitário. Se vivemos em tempos de distanciamento social, não vivemos tempos de falta de comunhão existencial.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Segunda-feira da 6ª Semana da Páscoa


18 de Maio de 2020
São João I, Papa e Mártir
Cor: Vermelho

1ª Leitura – At 16,11-15
O Senhor abriu o seu coração para que aceitasse as palavras de Paulo.
Leitura dos Atos dos Apóstolos 16,11-15
11Embarcamos em Trôade e navegamos diretamente para a ilha de Samotrácia. No dia seguinte, ancoramos em Neápolis, 12de onde passamos para Filipos, que é uma das principais cidades da Macedônia, e que tem direitos de colônia romana. Passamos alguns dias nessa cidade. 13No sábado, saímos além da porta da cidade para um lugar junto ao rio, onde nos parecia haver oração. Sentados, começamos a falar com as mulheres que estavam aí reunidas. 14Uma delas chamava-se Lídia; era comerciante de púrpura, da cidade de Tiatira. Lídia acreditava em Deus e escutava com atenção. O Senhor abriu o seu coração para que aceitasse as palavras de Paulo. 15Após ter sido batizada, assim como toda a sua família, ela convidou-nos: 'Se vós me considerais uma fiel do Senhor, permanecei em minha casa.' E forçou-nos a aceitar.
Palavra do Senhor.
Paulo e seu companheiro de missão identificam um grupo orante fora dos muros da cidade, fora também dos templos estabelecidos (judeus ou pagãos). Esse grupo orante é um grupo de mulheres com as quais eles iniciam diálogo sobre a fé no Senhor Jesus. Lídia e, provavelmente através dela, sua família abraçam a fé, introduzindo os apóstolos em sua casa. É interessante recordar que casa, nos Atos dos Apóstolos, é o lugar da comunidade. Isso faz pensar que Lídia, ao abraçar a fé em Jesus Cristo, tanto pela sua família como pela sua casa (comunidade) torna-se uma liderança na fé, uma anunciadora da boa nova, uma discípula missionária.
Sua fadiga não a impede de se tornar cristã plena e ativa. Por ser de Tiatira, cidade interiorana, seu produto, a púrpura, não é de primeira linha, pois, com toda certeza, era extraída de raízes, diferentemente da púrpura extraída de peixes (mais vermelha e mais cara).
É mulher que trabalha no comércio. É mulher que toma a palavra. É mulher que convence. É lutadora, liderança, perseverante.

Salmo – Sl 149, 1-2. 3-4. 5.6a.9b (R.4a)
R. O Senhor ama seu povo, de verdade.
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

1Cantai ao Senhor Deus um canto novo, *
e o seu louvor na assembleia dos fiéis!
2Alegre-se Israel em Quem o fez, *
e Sião se rejubile no seu Rei! R.

3Com danças glorifiquem o seu nome, *
toquem harpa e tambor em sua honra!
4Porque, de fato, o Senhor ama seu povo *
e coroa com vitória os seus humildes. R.

5Exultem os fiéis por sua glória, *
e cantando se levantem de seus leitos,
6acom louvores do Senhor em sua boca *
9bEis a glória para todos os seus santos. R.
Amando o seu povo de verdade, o Senhor é glorificado pelo próprio povo que sente seu amor e, sentido, o expande.

Evangelho – Jo 15,26-16,4a
O Espírito da Verdade dará testemunho de mim.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 26Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. 27E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. 16,1Eu vos disse estas coisas para que a vossa fé não seja abalada. 2Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar julgará estar prestando culto a Deus. 3Agirão assim, porque não conheceram o Pai, nem a mim. 4aEu vos digo isto, para que vos lembreis de que eu o disse, quando chegar a hora.
Palavra da Salvação.
Jesus consola seus discípulos, falando-lhes do Defensor, o Espírito que recordará tudo o que Jesus havia dito, e dará testemunho dele. Assim também os discípulos darão testemunho de Jesus e de seu ensinamento, porque, movidos pelo Espírito, são espírito livre que sopra e ninguém segura, mesmo julgando prestar culto a Deus ao impedir esse testemunho.

O Espírito, que testemunha Jesus Cristo, impele para a missão além das fronteiras. Paulo e seus companheiros, deixando a pregação para os judeus e iniciando a pregação para os pagãos, expandem as fronteiras do anúncio. Lídia é exemplo disso: uma mulher trabalhadora da Macedônia, reunida fora da organização religiosa de seu tempo, pois estava fora dos muros da cidade e à beira do rio com um grupo em oração, que acolhe a palavra dos missionários de Jesus, transformando-se ela mesma em missionária (evangeliza sua família e abre sua casa). Correrá riscos com isso? Sem dúvida, pois, mais adiante acolherá Paulo saído da prisão, o que lhe identifica com o perseguido. Tem medo? Não, já é o Espírito que a impulsiona; o Espírito anunciado e prometido por Jesus no Evangelho.
Eis a obra do Espírito que testemunha Jesus: impele os missionários para além de seus grupinhos constituídos, anunciando em novos ambientes a Palavra de Jesus, fazendo reconhecer que há fé fora dos espaços comuns; suscitando novos discípulos e novas discípulas, que se tornam missionários, com coragem de abrir suas casas aos perseguidos.


As narrativas da estigmatização de Francisco de Assis

  É interessante que Francisco nunca faça menção aos seus estigmas, nem mesmo de forma indireta. Santa Clara, sua grande amiga que o tem com...